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25 de outubro de 2010

De Chirico e o Tempo

O pintor italiano Giorgio de Chirico (1888-1978) fundou, com Carlo Carrà (1881-1966) a Pittura metafisica e foi, através dela, um dos precursores do Surrealismo e do Dadaísmo. Sua obra é marcada pela exploração da melancolia e, em grau menor, pelo interesse no Tempo. Influência marcante sobre a arte que precedeu, De Chirico também foi escritor, com destaque para o romance Hebdomeros, uma narrativa surrealista em que evoca as mesmas imagens oníricas e fugazes que pintava.

 Em L'enigma dell'ora ("O Enigma da Hora", 1911), De Chirico emprega a alta formação de arcos e colunas como um símbolo para o afastamento entre o humano e o divino, elemento recorrente em sua obra (evidente em "O Enigma do Oráculo", de 1910). Os elementos alusivos ao Tempo, também recorrentes, como ficará evidente nas peças seguintes, são o relógio e a fonte. O relógio simboliza a morte, e a fonte representa o eterno retorno ou tempo circular. As duas figuras (clara e outra sombria) contemplam a fonte representando a melancolia dos homens alienados pelo tempo, pela morte e esquecidos pelos deuses. O relógio marca 14h55.

Em "As Delícias do Poeta" (1912), De Chirico coloca o tempo novamente no centro da composição. A presença de um trem (atrás do muro, à direita) em suas obras evoca a força da juventude, mas também a linearidade do Tempo, observada pela forma fantasmagórica solitária e impotente no pátio. O amplo terreno deserto é explicitamente monótono, maximizado pela eliminação do horizonte e pelas sombras, principalmente as que indicam que os prédios estão vazios. A fonte é uma alusão ao eterno retorno, ou tempo circular, contraposto ao tempo linear: uma alternativa ou "algo que poderia ser", mas talvez pelo isolamento do elemento venha não para contestar, mas para reforçar a ideia de linearidade, que termina na morte.

Em Gare Montparnasse (1914), também chamado de "Melancolia da Partida" (não confundir com a peça homônima de 1916), reaparecem o trem, as figuras contempladoras, a vastidão monocromática invadida por sombras, as altas colunas e arcos, a ausência do horizonte, o céu degradê distante. É uma das representações metafísicas de De Chirico, desta vez da estação de trem de mesmo nome em Paris. As bananas, perecíveis e imediatas, já haviam aparecido em "A Incerteza do Poeta" e "O Sonho Transformado", ambas de 1913.

Veja também o apêndice de Kathleen Toohey sobre De Chirico do livro Melancholy, Love and Time: Boundaries of the Self in Ancient Literature.

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