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22 de novembro de 2010

O Tempo na ficção científica antiga (2)

Um dos elementos essenciais para a ficção científica -- logo ali, em seu nome -- é a ciência. Na tentativa de incluí-la em um gênero maior -- o da ficção especulativa -- é possível falar que é ficção em que a especulação envolve fatos científicos. Logo, momentos históricos marcados pelo progresso científico inevitavelmente instigam a imaginação e impulsionam as artes e a literatura, como o foram o Renascimento e o Iluminismo.

Mapa de Utopia, Abraham Ortelius, 1595
"Utopia" (1516), do inglês Thomas More (1478-1535), consagrou e deu nome à imaginação de sociedades ideais na literatura. A obra descreve a ilha de Utopia e o conjunto de práticas que a faz suportar uma sociedade perfeita, ainda que inalcançável. Obras no mesmo espírito incluem "Cidade do Sol" (1602) de Tommaso Campanella (1568-1639) e "Nova Atlântida" (1624) de Francis Bacon (1561-1626). Ainda que um tratamento contemporâneo -- More descrevia a ilha com relatos de viajantes que a visitaram -- seu nome, e o antônimo "distopia" são usados frequentemente para descrever sociedades futuristas. 

O irlandês Samuel Madden (1686-1765) escreveu "Memórias do Século Vinte" (1733) e "O reinado de George VI, 1900-1925" (1763), em que o protagonista recebe documentos governamentais do futuro através de seu anjo da guarda, que o permite examinar os problemas do mundo governado pelo Imperador George VI. A característica mais notável desse futuro é que, extrapolando a tendência de construção de canais de sua época, o autor imaginou que o futuro teria canais e vias fluviais no lugar de nossas estradas e trilhos, com barcos em vez dos nossos automóveis atuais. A obra de Madden é indicada como uma crítica usando a distância do tempo como Jonathan Swift (1667-1745) usou a distância do espaço em seu "Viagens de Gulliver" (1726).

L'An 2440, rêve s'il en fut jamais ("O Ano 2440, um sonho, se já houve um", 1771) do francês Louis-Sebastién Mercier (1740-1814) é um exemplo de utopia futurista, contando a história de um parisiense que adormece e desperta no ano do título, para uma cidade quase perfeita com mudanças desde o vestuário e consumo (como a eliminação de café, chá, tabaco e pastelarias) até reformas mais contundentes (como a eliminação de sacerdotes, dos impostos e do exército). 

 O francês Rétif de la Bretonne (1734-1806) -- mais lembrado por libertinagens -- tenta prever inventos e descobertas futuras em seu "A Descoberta Austral por um Homem Voador, ou o Dédalo Francês" (1781), em que o entomólogo Victorin desenvolve mecanismos alados baseado nas asas de insetos, para fugir com sua amante Christine voando para o sul, onde descobre Megapatagon, um arquipélago habitado por homens-animais, com o inverso da sociedade francesa, até no nome da capital "Sirap".

O francês Jean-Baptiste Cousin de Grainville (1746-1805) escreveu Le Dernier Homme ("O Último Homem", 1805) parece ter sido o primeiro a explorar o tema, que se tornaria frequente nas épocas vindouras. O narrador repassa a estória que lhe foi contada pela Encarnação do Tempo, a saga de Omégare, o Último Homem. Com o planeta quase todo reduzido a um deserto estéril pelos abusos do homem, Omégare foge para o último lugar vivo, no Brasil (!). Mas lá, Ormus, autoproclamado "Deus da Terra", deseja que Omégare procrie com Sydérie, a última mulher, para recomeçar a humanidade. Intimidado pelo futuro que criaria, com os primeiros humanos fadados ao barbarismo, Omégare escolhe a própria morte e o fim da humanidade. O tema "último homem" recebeu atenção imediata não apenas através de Mary Shelley, discutida a seguir, mas também por seguidores: Creuzé de Lesser ("O Último Homem", 1831), Paulin Gagné ("A Mulher Messias", 1858) e Elise Gagné ("Omégar ou o Último Homem", 1859)

"O Último Homem", John Martin, 1849
A inglesa Mary Shelley (1797-1851), notória autora de "Frankenstein" (1818), uma das obras apontadas como fundadoras da ficção científica, deve ser mencionada aqui por outros textos. Seu próprio "O Último Homem" (1826) descreve profecias escritas pela Sibila de Cumas adaptadas no relato de Lionel Verney, que perto do ano 2100 tenta alcançar a segurança em um mundo assolado pela peste, guerras e saqueadores. "Roger Dodsworth: O Inglês Reanimado" (1826), publicado como um relato fidedigno nos jornais ingleses, contava a história do inglês do título, nascido em 1629 e enterrado em uma avalanche em 1660, e trazido à vida depois de 166 anos. "O Mortal Imortal" (1833) é o relato de "Winzy" em seu 323o. aniversário, lembrando como tomou uma substância preparada pelo alquimista alemão Cornelius Agrippa (1486-1535), enquanto trabalhava para ele como seu assistente, tornando-se imortal.

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